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Na saída, Laor diz que dinheiro do Barça atrapalhou Neymar no Mundial

Perrone

16/05/2014 15h14

Um dia após renunciar à presidência do Santos, Luis Alvaro de Oliveira Ribeiro, o Laor, concedeu entrevista por telefone ao blog. Falou sobre sua administração e disse que o fato de Neymar já ter negociado com o Barcelona antes em 2011, antes da final do Mundial de Clubes, vencida pelo time catalão, prejudicou o desempenho do atacante.

Procurado, o pai de Neymar, citado várias vezes na entrevista, não retornou a ligação para o blog, que também não conseguiu fazer contato com o jogador. Leia abaixo a entrevista.

Como foi a decisão de renunciar?

Sofri com efeitos colaterais de uma medicação e passei cinquenta dias terríveis sem poder sair do quarto. No último final de semana, os médicos disseram que estava sendo suicida ao imaginar voltar ao Santos após a minha licença, em plena época eleitoral, desaforos, falta de educação. Seria um suicídio. Falaram que eu tinha que me conformar em sair. Saio, mas com sensação de dever cumprido. Sou o segundo presidente que ganhou mais títulos. O primeiro é o Athiê Jorge Coury, mas ele ficou 23 anos e tinha o Pelé. Fiquei três anos e tive seis títulos.

Quais os seus principais acertos?

Ter tido coragem de segurar o Neymar por mais tempo do que normalmente os clubes seguram no Brasil. Foi uma vitória do futebol brasileiro mostrar que, quando queremos, podemos segurar o jogador aqui. Não somos um mercado persa de tráfico humano. O segundo acerto foi a retomada do respeito da torcida, dos jornalistas, da opinião pública pelo salto de qualidade que o Santos deu em termos de elenco e títulos.

E as principais falhas. Do que o senhor se arrepende?

De ter apoiado a reforma do estatuto com a criação do Comitê de Gestão, que é uma aberração em termos administrativos. Ele dilui responsabilidades, mas ela é sempre do presidente. O meu voto valia a mesma coisa que o voto de um cara que chegou ao Santos agora e não  conhece nada, não conhece finanças, futebol e isso é profundamente tumultuante. Aquilo que se pretendia democrático mostrou-se antidemocrático.

Em relação ao Neymar, ao relacionamento com o pai dele… [interrompe]

Foi uma decepção profunda. O que me deixou muito magoado foi a suspeita de que o pai já tinha recebido dinheiro do Barcelona. Isso é uma coisa impensável do ponto de vista ético. Você vai jogar por um time e receber dinheiro do seu adversário na final do Campeonato Mundial? Isso é inaceitável. Então, saio com as relações estremecidas com o pai. Com o filho, não. O filho defendeu o pai, isso é normal. Mas o pai mentiu o tempo todo dizendo que não tinha contrato, não tinha dada de nada, que não tinha grana. E nós acreditamos.

Hoje o senhor tem outra visão sobre a derrota para o Barcelona na final do Mundial?

Tenho outra visão depois que surgiram as suspeitas que vão ser apuradas. Houve apenas uma declaração do pai do Neymar de que já tinha recebido dinheiro do Barcelona em 2011, antes da final. Então, teve um jogo em que o melhor atacante do mundo na minha opinião teve um desempenho medíocre e já teria recebido dinheiro do adversário.

O senhor está seguro que a negociação em andamento com o Barcelona influenciou no desempenho do Neymar?

Estou seguro porque não foi negociação, foi dinheiro recebido.

Isso mexeu com a cabeça dele?

Claramente, a quantidade de dinheiro era muito grande.

O senhor falou com o Neymar pai depois que o caso veio à tona?

Não. Não tive oportunidade, e espero não tê-la mais. Quando tem mentira, jogo de esconde-esconde, é algo muito grave, mostra quem é a pessoa que pretensamente é seu amigo.

O senhor se arrepende do amistoso com o Barcelona em que o Santos foi goleado?

Não, o amistoso era parte de um pacote. Foi combinado e quando você combina não se arrepende.

E se arrepende de ter atendido a muitas exigências do pai do Neymar?

São exigências do pai do Frank Sinatra. O pai do Frank Sinatra deveria fazer exigências absurdas. Como também o pai do Zidane, do Messi. O Neymar passou a ser uma estrela universal. O grande ídolo depois do Pelé foi o Neymar. O pai fica muito a cavaleiro. Se o Barcelona deposita o dinheiro da multa em junho, o Santos não vê um centavo desse dinheiro.  Algumas das exigências foram infantis. Outras pensando naquilo que é o móvel da vida do pai que é dinheiro. Ele só pensa em dinheiro, é fanático por dinheiro. Espero que ele seja feliz. Feliz com o Neymar na Copa. E que Neymar se livre desse vírus da sensação de ser o melhor do mundo. Uma das características que ele [o atacante] tinha era a humildade, o sorriso simpático, a paciência para atender sócios. Espero que ele não perca isso na Europa. Num ninho de cobra, o risco de você virar serpente é muito grande. Isso pode acontecer.

Exigência infantil é pedir passagem de primeira classe e hotel cinco estrelas para acompanhar o filho na seleção?

É. Isso é coisa de quem não tá pensado no mais importante que é a carreira do filho. Está querendo a mordomias de chefe de Estado. E levando assessores pagos pelo Santos, o que não é coisa de uma pessoa sensata. É de uma pessoa no mínimo imatura.

O senhor também espera não encontrar mais o Neymar?

Entendo a defesa dele em relação ao pai, e a gente vai se encontrar nas rodas da vida.

Qual foi sua melhor contratação?

Foram algumas muito boas. Arouca foi excelente. Acho que o Durval foi uma excelente contratação, campeão paulista pelo Santos três vezes, um vencedor. Mas eu precisaria fazer um exercido de memória.

Quem o senhor não teria contratado?

Leandro Damião. Não tem categoria e classe pra jogar no Santos. É um jogador mediano. Se tivessem me consultado eu não teria concordado com a contratação dele. Caro e improdutivo. Eu já estava licenciado quando contrataram.

E das contratações que o senhor fez. Tem alguma que o senhor se arrepende de ter feito?

Precisaria pensar um pouco mais para não dar uma resposta irresponsável.

O senhor se sente traído por alguém no clube?

Tem dois nomes que não agiram corretamente comigo, foram desleais, fofoqueiros, ficaram falando mal de mim para outros membros do Comitê de Gestão sem razão. Mas prefiro esquecer isso. Não quero mais lembrar o nome desses dois sujeitos. Um deles me mandou uma carta extremamente malcriada que eu li, não respondi e nem guardei. Era de um baixo nível que não merece resposta.

Quem o senhor gostaria que fosse eleito presidente na próxima eleição?

Eu me afastei . Uma grande parte das pessoas que estão no Santos eu não conheço, muita gente foi substituída. Quando o Odílio Rodrigues [atual presidente] me liga gentilmente, uma vez a cada 20 dias,  é para saber da minha saúde. Não me consulta sobre nada, sobre contratações como essa do Damião. Então estou fora do processo decisório. Sobre participar do processo eleitoral, precisamos saber primeiro quem vão ser os candidatos. Não sei se participo da campanha eleitoral porque não sei se o médico vai deixar, provavelmente não. Mas vou depositar o meu voto naquele que eu achar que tem mais condições de presidir o Santos.

Nota do blog

No final de janeiro, Neymar pai disse em entrevista coletiva que recebeu 10 milhões  de euros do Barcelona, em 2011, como parte de um acordo pelo qual o atleta pagaria 40 milhões de euros de multa caso não se transferisse para o Barça ao fim de seu compromisso com o Santos. Mas ele negou haver um pré-contrato firmado.

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Sobre o Autor

Ricardo Perrone é formado em jornalismo pela PUC-SP, em 1991, cobriu como enviado quatro Copas do Mundo, entre 2006 e 2018. Iniciou a carreira nas redações dos jornais Gazeta de Pinheiros e A Gazeta Esportiva, além de atuar como repórter esportivo da Rádio ABC, de Santo André. De 1993 a 1997, foi repórter da Folha Ribeirão, de onde saiu para trabalhar na editoria de esporte do jornal Notícias Populares. Em 2000, transferiu-se para a Folha de S.Paulo. Foi repórter da editoria de esporte e editor da coluna Painel FC. Entre maio de 2009 e agosto de 2010 foi um dos editores da Revista Placar.

Sobre o Blog

Prioriza a informação que está longe do alcance das câmeras e microfones. Busca antecipar discussões e decisões tomadas por dirigentes, empresários, jogadores e políticos envolvidos com o futebol brasileiro.


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