Romário criticou financiados pela Ambev. Agora, recebeu R$ 500 mil da Ambev
Perrone
23/09/2014 06h34
"Não recebo dinheiro de Fifa, de CBF e nem de Ambev", disse Romário (PSB-RJ) em 8 de novembro de 2011, durante audiência na Câmara dos Deputados sobre a Lei Geral da Copa. E em maio de 2014, em votação referente ao projeto de refinanciamento das dívidas fiscais dos clubes, o ex-jogador afirmou: "Esse projeto é um projeto eleitoreiro. Ou seja, deputados que vão a favor desse projeto estão pensando na sua eleição com ajuda direta ou indireta da CBF". Na ocasião, ele atacava colegas que teriam votado de acordo com os interesses da confederação brasileira pensando no apoio da entidade e dos parceiros dela em suas campanhas na eleição de outubro.
Cerca de dois meses depois do inflamado depoimento dado em maio, no qual disse ter vergonha de ser colega de parlamentares alinhados com a CBF, Romário viu sua campanha ao Senado pelo Rio ser turbinada com R$ 250 mil da Londrina Bebidas, subsidiária integral da Ambev, patrocinadora da confederação, entidade dirigida por safados, nas palavras do ex-atacante. Em 28 de agosto, entraram nos cofres da campanha de Romário mais R$ 250 mil da subsidiária da Ambev.
As duas doações estão registradas na prestação parcial de contas do candidato entregues ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral) e foram feitas primeiro à direção do PSB, que efetuou o repasse para Romário. Nos dois casos, como espécie do recurso doado pela subsidiária da Ambev, aparece no site do TSE apneas "outros créditos", sem maiores detalhes .Ao todo, o ex-jogador declarou ter recebido até agora R$ 758.440 em doações.
Uma das bandeiras de Romário na Câmara foi a instalação de uma CPI para investigar a CBF. Investigação desse porte provavelmente esmiuçaria os contratos de patrocínio da entidade. Indagado por meio de sua assessoria de imprensa se não havia um conflito de interesses no fato de receber doação de uma empresa de um dos patrocinadores da CBF, Romário respondeu com uma pergunta: "Conflito de interesse de quem, de mim, da Ambev ou da CBF?".
Por sua vez, a Ambev respondeu aos questionamentos do blog com a seguinte nota:
"As doações eleitorais que Ambev faz a partidos e candidatos respeitam o modelo de contribuição privada adotado no Brasil. A companhia informa que essas contribuições, como não poderia deixar de ser, obedecem ao rigor da lei, são absolutamente transparentes, realizadas de maneira formal, com prestação de contas às autoridades e à sociedade, e somam valores muito inferiores aos permitidos por lei. A Ambev reitera que não privilegia nenhum partido, candidato ou corrente política e que a distribuição das doações obedece ao critério da proporcionalidade de representação das bancadas em nível federal, estadual e municipal."
No site do TSE não foi possível obter a relação completa das doações feitas pela Londrina Bebidas, que no dia 27 de agosto teve a sua incorporação aprovada pelo Conselho de Administração da Ambev com o objetivo de facilitar a estrutura societária e reduzir custos. Assim, a Londrina Bebidas deixará de existir, porém, seu capital e seu patrimônio líquidos já refletiam no balanço da Ambev por se tratar de uma subsidiária integral.
Abaixo, veja reprodução da prestação de contas de Romário.
Sobre o Autor
Ricardo Perrone é formado em jornalismo pela PUC-SP, em 1991, cobriu como enviado quatro Copas do Mundo, entre 2006 e 2018. Iniciou a carreira nas redações dos jornais Gazeta de Pinheiros e A Gazeta Esportiva, além de atuar como repórter esportivo da Rádio ABC, de Santo André. De 1993 a 1997, foi repórter da Folha Ribeirão, de onde saiu para trabalhar na editoria de esporte do jornal Notícias Populares. Em 2000, transferiu-se para a Folha de S.Paulo. Foi repórter da editoria de esporte e editor da coluna Painel FC. Entre maio de 2009 e agosto de 2010 foi um dos editores da Revista Placar.
Sobre o Blog
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