Topo

Como o técnico campeão paulista de 2015 foi detonado em sessenta dias

Perrone

07/07/2015 07h54

No dia 3 de maio, Marcelo Fernandes levou o Santos ao título Paulista de 2015. Dois meses e dois dias depois, no último domingo, após a derrota por 3 a 1 para o Grêmio, a diretoria do clube concluiu que ele não deve mais seguir como treinador da equipe, como mostrou o blog nesta segunda. Em cerca de sessenta dias uma sucessão de fatos avassaladores enfraqueceu o técnico vencedor do último estadual.

O primeiro golpe aconteceu na montagem da equipe para o Brasileiro. Apenas uma contratação do Santos, o meia Rafael Longuine, teve o dedo do técnico. As vindas dos outros jogadores, como Marquinhos, Neto Berola, Nilson e Leonardo foram idealizadas pela diretoria.

Além de não ser o mentor das contratações feitas, Fernandes espera uma nova leva de reforços que pediu para a direção, mas corre grande risco de ver as caras novas chegarem já rebaixado para seu antigo cargo, o de auxiliar técnico.

Uma pitada de desconforto foi acrescentada para Fernandes com o vazamento de informações sobre o que acontece no vestiário do time.

Outro episódio importante na perda de força do treinador aconteceu quando Modesto Roma Júnior tentou contratar Oswaldo de Oliveira. Além do desgaste natural com o vazamento da informação, Fernandes ficou mais asfixiado no clube por causa da guerra política que a tentativa de contratação detonou.

Oswaldo não veio porque Modesto não conseguiu a aprovação da maioria do Comitê de Gestão, como determina o estatuto do clube. Em seguida, destituiu Lourenço Lopes e José Renato Quaresma do comitê. Ambos foram contra o retorno de Oliveira à Vila Belmiro. Só que Quaresma é amigo de Fernandes e era a pessoa mais próxima a ele na cúpula santista.

Já enfraquecido, o treinador enfrentou ainda um atrito com um dos assessores de imprensa do Santos. Ele queria realizar um treinamento sem a presença dos jornalistas, mas a entrada deles foi permitida. Os dois se desentenderam e desde então não falam a mesma língua. O assessor ficou fora de viagens do time após o desentendimento.

Outro ingrediente foi acrescentado à crise: os desfalques. Como os de Robinho e Valencia, que que foram para a Copa América. O primeiro não renovou seu contrato no retorno, e o segundo se machucou defendendo a Colômbia, engrossando a lista de lesionados. Renato, Elano, Marquinhos Gabriel, Neto Berola e Zeca estão entre os que se contundiram.

Cada vez mais, Fernandes precisou usar as categorias de base do clube, historicamente badaladas, mas que agora tem suas crias criticadas pela torcida. Dessa vez, o clima não é nada propício para os moleques. A indecisão sobre o futuro do técnico combinada com atrasos nas remunerações espalhou insegurança. Tanto que no sábado, antes do revés diante do Grêmio, que jogou o time na zona de rebaixamento, havia atleta telefonando para cartola a fim de saber sobre os pagamentos.

No dia seguinte à quinta derrota da equipe em 11 rodadas no Brasileirão, a preocupação dos jogadores, principalmente os mais jovens, era com o treinador. Eles tentavam apoiar Fernandes após saberem que a diretoria se reuniria para tratar da escolha de um substituto, e sem avisar o técnico. Não é preciso ter muita experiência no futebol para sacar que a situação do treinador ficou insustentável.

 

Comunicar erro

Comunique à Redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:

Como o técnico campeão paulista de 2015 foi detonado em sessenta dias - UOL

Obs: Link e título da página são enviados automaticamente ao UOL

Ao prosseguir você concorda com nossa Política de Privacidade

Sobre o Autor

Ricardo Perrone é formado em jornalismo pela PUC-SP, em 1991, cobriu como enviado quatro Copas do Mundo, entre 2006 e 2018. Iniciou a carreira nas redações dos jornais Gazeta de Pinheiros e A Gazeta Esportiva, além de atuar como repórter esportivo da Rádio ABC, de Santo André. De 1993 a 1997, foi repórter da Folha Ribeirão, de onde saiu para trabalhar na editoria de esporte do jornal Notícias Populares. Em 2000, transferiu-se para a Folha de S.Paulo. Foi repórter da editoria de esporte e editor da coluna Painel FC. Entre maio de 2009 e agosto de 2010 foi um dos editores da Revista Placar.

Sobre o Blog

Prioriza a informação que está longe do alcance das câmeras e microfones. Busca antecipar discussões e decisões tomadas por dirigentes, empresários, jogadores e políticos envolvidos com o futebol brasileiro.


Perrone