Trecho de delação de Emílio não causa surpresa no Corinthians
Perrone
23/10/2016 10h05
A informação publicada pela "Folha de S.Paulo" de que Emílio Odebrecht em seu acordo de delação afirmou que a Arena Corinthians foi um presente da construtora que ostenta seu sobrenome ao ex-presidente Lula ao alvinegro não causou surpresa no clube, mesmo assim agitou o Parque São Jorge já no último sábado (22).
Conselheiros corintianos não se surpreenderam porque conhecem a história contada por Andrés Sanchez em seu livro de que Lula pediu a ajuda de Emílio para a construção da arena. "Com seu usual tom ameno, amistoso, Alexandrino [Alencar] contou de uma viagem que tinha feito a Brasília com Emílio Odebrecht, presidente do Conselho de Administração da empresa. Na reunião, a construtora tratava com o presidente Lula de assuntos do setor petroquímico. À saída, Lula, despedindo-se de Odebrecht e Alexandrino, mudou de assunto: bem que vocês podiam dar uma mão para esse garoto, presidente do Corinthians, fazendo o estádio, hein?", relatou o ex-presidente do Corinthians em sua publicação.
O sentimento de conselheiros do clube é de que a primeira revelação sobre a delação de Emílio é só a ponta do iceberg que já podia ser vista a olho nu. A oposição fareja histórias cabeludas que podem enterrar o grupo político de Andrés, mas não se sabe se o clube pode de fato ser atingido.
Já na situação há quem diga torcer por uma rápida elucidação dos fatos a fim de que eventuais culpados sejam conhecidos.
Tanto situacionistas como oposicionistas entendem que se tiverem sido cometidos crimes a instituição Corinthians só pode ser vítima, já que ficou com uma conta que supera R$ 1,5 bilhão para pagar, contando juros, e um estádio bem diferente do que foi projetado.
Enquanto a oposição corintiana aguarda o desenrolar da Lava Jato, a situação já arregaçou as mangas. No sábado, após votação de mudanças no estatuto do clube, o presidente Roberto de Andrade e Andrés se reuniram com influentes conselheiros, como Paulo Garcia.
Além da delação de Emílio, Andrade também tinha a história de que assinou ata de assembleia do fundo responsável pela arena antes de ser presidente para explicar.
Após uma série de eventos mal explicados envolvendo o estádio, entre eles relatório e notas fiscais emitidas pela Odebrecht dando a obra como concluída em 2014, umas das poucas certezas entre conselheiros de diferentes grupos é de que o brilho de Andrés no clube se apaga a cada notícia negativa. E que com a mesma intensidade sua força política no Parque São Jorge diminui.
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Sobre o Autor
Ricardo Perrone é formado em jornalismo pela PUC-SP, em 1991, cobriu como enviado quatro Copas do Mundo, entre 2006 e 2018. Iniciou a carreira nas redações dos jornais Gazeta de Pinheiros e A Gazeta Esportiva, além de atuar como repórter esportivo da Rádio ABC, de Santo André. De 1993 a 1997, foi repórter da Folha Ribeirão, de onde saiu para trabalhar na editoria de esporte do jornal Notícias Populares. Em 2000, transferiu-se para a Folha de S.Paulo. Foi repórter da editoria de esporte e editor da coluna Painel FC. Entre maio de 2009 e agosto de 2010 foi um dos editores da Revista Placar.
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