Um ano após renúncia, como ficaram as denúncias contra Aidar no São Paulo?
Perrone
13/10/2016 07h33
Exatamente um ano após a renúncia de Carlos Miguel Aidar, ainda há suspeitas relacionadas à gestão do ex-presidente do São Paulo não esclarecidas. O assunto gera controvérsia no Morumbi, pois parte dos conselheiros entende que o clube não fez o possível para apurar todas as supostas irregularidades e buscar o ressarcimento de eventuais prejuízos financeiros.
"Não somos polícia e não podemos agir sem provas, mas acho que poderíamos ter ido mais a fundo em algumas questões", disse ao blog Roberto Natel, que pediu demissão do cargo de vice-presidente da atual gestão.
Em pelo menos um dos casos, o episódio em que Aidar contratou um escritório de advocacia para fazer um trabalho antes tocado gratuitamente pelo conselheiro Ives Gandra Martins, há o entendimento de parte dos conselheiros de que o São Paulo poderia ter ido à Justiça para buscar reembolso do que foi pago.
"Claro (que poderia tentar ressarcimento na Justiça), mas esse poder é exclusivo do presidente, e ele já demonstrou que não o fará", opinou Newton Luiz Ferreira, o Newton do Chapéu, candidato derrotado à presidência.
O blog apurou que no entendimento do presidente Carlos Augusto de Barros e Silva, o Leco, o clube tem indícios de que o São Paulo foi lesado em pequenas quantias, mas não existem provas suficientes para dar respaldo a um processo na Justiça e que uma ação jogaria mais lama no ventilador, prejudicando a imagem do clube e possivelmente afastando eventuais patrocinadores.
Por sua vez, José Roberto Opice Blum, presidente da Comissão de Ética que investigou parte dos casos, afirma que são injustas críticas ao trabalho feito.
"Pessoas que não têm conhecimento jurídico falam coisas que não fazem sentido sobre o caso. Tem gente que espalha que sou amigo do Aidar. A nossa comissão aplicou a pena máxima ao Aidar, de expulsão do Conselho Deliberativo. O que mais poderíamos ter feito? Não somos delegacia de polícia e nem fazemos parte do judiciário", afirmou Blum.
Aidar, que sempre negou ter cometido irregularidades, não atendeu ao blog.
Abaixo, veja no que deram as principais denúncias contra a gestão do ex-presidente.
Caso Far East
A empresa que tinha contrato para receber cerca de R$ 18 milhões por supostamente intermediar o acordo entre São Paulo e Under Armour era acusada de ser de fachada. O caso foi arquivado no Conselho Deliberativo sob as justificativas de que ela é uma firma legal e que houve desistência por escrito do valor que seria pago.
"O distrato feito abrange passado e futuro, então não há nenhum risco de o clube ter prejuízo nesse caso", disse Blum.
Esse é um dos episódios que mais deixaram insatisfeitos no Morumbi. "Não entendo como alguém pode abrir mão de receber milhões, então não fiquei satisfeito com o resultado", afirmou Natel.
Caso Maidana
O Ministério Público investiga a contratação do jogador, que custou R$ 2 milhões ao São Paulo, mas foi vendido antes do Criciúma para o Monte Cristo por R$ 400 mil. Ele nem chegou a ser apresentado pelo Monte Cristo, de Goiás. A Comissão de Ética não conseguiu chegar a uma conclusão sobre o caso, que ainda envolve a empresa Itaquerão Soccer. Ela colocou dinheiro no negócio.
Caso Rodrigo Caio
A Comissão de Ética concluiu que Cinira Maturana, namorada de Aidar, receberia comissão se o zagueiro fosse vendido para a Europa. O acordo é considerado incompatível com o estatuto e foi um dos principais motivos para o ex-presidente ser expulso do Conselho Deliberativo.
Troca de advogados
Aidar trocou a defesa feita gratuitamente pelo conselheiro Ives Gandra Martins por um escritório que cobrou R$ 8 milhões para atuar num processo contra cobrança da Receita Federal. A atual diretoria suspendeu a parte do pagamento que ainda precisava ser feita. A Comissão de Ética apontou também a participação de Ataíde Gil Guerreiro, ex-vice de futebol e atual diretor de relações institucionais, no caso. Esse episódio teve peso importante na decisão de expulsar do conselho Guerreiro, acusado ainda de agredir Aidar. Os dois dirigentes negam terem cometido irregularidades.
CEO
A atual direção descobriu que a antiga diretoria pagou uma empresa especializada em encontrar profissionais para ocupar vagas abertas em empresas para indicar Paulo Ricardo Oliveira, ex-presidente da Penalty, como CEO do clube. O entendimento é de que o gasto foi desnecessário, pois Oliveira era velho conhecido da diretoria por comandar a empresa que antecedeu a Under Armour como fornecedora de material esportivo. O caso não chegou a ir para a Comissão de Ética. A direção acredita que faltam provas contundentes de que o São Paulo foi lesado.
Limpeza
Há suspeitas de que houve pagamento de propina por parte de uma empresa de limpeza para atuar no clube. Porém, elas não foram encaminhadas para a Comissão de Ética. A avaliação da diretoria também é de que faltam provas para que medidas sejam tomadas.
Sobre o Autor
Ricardo Perrone é formado em jornalismo pela PUC-SP, em 1991, cobriu como enviado quatro Copas do Mundo, entre 2006 e 2018. Iniciou a carreira nas redações dos jornais Gazeta de Pinheiros e A Gazeta Esportiva, além de atuar como repórter esportivo da Rádio ABC, de Santo André. De 1993 a 1997, foi repórter da Folha Ribeirão, de onde saiu para trabalhar na editoria de esporte do jornal Notícias Populares. Em 2000, transferiu-se para a Folha de S.Paulo. Foi repórter da editoria de esporte e editor da coluna Painel FC. Entre maio de 2009 e agosto de 2010 foi um dos editores da Revista Placar.
Sobre o Blog
Prioriza a informação que está longe do alcance das câmeras e microfones. Busca antecipar discussões e decisões tomadas por dirigentes, empresários, jogadores e políticos envolvidos com o futebol brasileiro.