Quadros de Lula e homenagem a Emílio Odebrecht viram alvos no Corinthians
Perrone
13/12/2018 04h00
Quadro no Parque São Jorge com caricatura de Lula e outros corintianos famosos Foto: Arquivo pessoal de Ricardo Buonomo
Reflexos da Operação Lava Jato chacoalharam reunião do Conselho Deliberativo do Corinthians na última terça (11). Três requerimentos foram apresentados por conselheiros pedindo medidas em relação a personagens envolvidos na investigação.
Os pedidos são para a retirada de dois quadros do clube com caricaturas do ex-presidente Lula, cancelamento de título de sócio benemérito dado a Emilio Odebrecht, patriarca da construtora protagonista do escândalo de corrupção, e afastamento do deputado federal Vicente Cândido (PT-SP) da diretoria corintiana.
A iniciativa contra os desenhos em homenagem a Lula foi do conselheiro Ricardo Buonomo. As peças estão no ginásio principal do alvinegro e numa lanchonete da sede corintiana.
"Haja visto que os mesmos (quadros) denigrem a imagem do clube, pois é fato que diversos torcedores rivais comparecem em nosso clube para assistirem a jogos no ginásio, além de outros eventos nas dependências do clube, sendo que muitos já tiraram fotos e fizeram vídeos dos aludidos quadros, postaram nas redes sociais e divulgaram em grupos de WhatsApp com os seguintes dizeres: 'o ídolo deles é um presidiário', 'ganharam a arena do Lula, tem que colocar no quadro mesmo'. Esses são alguns exemplos das mais diversas piadas que acabam circulando, denegrindo a imagem do Corinthians", escreveu Buonomo no documento.
Em outro trecho ele diz ser salutar para o alvinegro demonstrar não ter vínculos com o ex-presdidente preso em Curitiba. O conselheiro também afirmou que foi procurado por sócios pedindo o sumiço das caricaturas.
"Desta maneira, acredito no bom senso do presidente Andrés Navarro Sanchez para que providencie a imediata retirada dos quadros em questão", diz a parte final do requerimento.
Ao blog, Buonomo afirmou que, se os quadros não forem retirados, ele vai pedir para que a medida seja votada pelos conselheiros durante nova reunião do órgão. O pedido foi endereçado a Sanchez e ao presidente do conselho alvinegro, Antônio Goulart dos Reis, colega de Andrés como deputado federal.
Homenagem contestada
O disparo na direção de Emílio Odebrecht partiu do conselheiro Romeu Tuma Júnior, ex-candidato à presidência do Corinthians. Ele alega que o empresário não preenchia requisitos previstos no artigo 29 do regimento interno do Conselho Deliberativo para poder ganhar o título de associado benemérito em 2013. O empenho dele na construção do estádio corintiano por meio da empresa de sua família foi um dos motivadores da honraria.
Ser sócio por 20 anos seguidos e conselheiro por dois mandatos são as exigências que Tuma alega não terem sido cumpridas. Além da questão técnica, o pedido se refere a fatos ligados a Lava Jato e envolvendo Emílio.
"Não é admissível manter um preso, réu confesso e delator do maior esquema de corrupção da história do Brasil como sócio intitulado benemérito", afirma o conselheiro em parte do documento.
No entanto, Emílio não está preso. Acordo de delação premiada prevê que ele cumpra pena em regime semiaberto em caso de futura condenação.
Tuma pediu para que seu pedido fosse votado já na reunião da última terça, mas Goulart respondeu que o caso só será debatido na próxima sessão do órgão, em fevereiro.
Afastamento
Um dia antes da reunião do conselho, o blog revelou movimentação de membros do órgão para pedir o afastamento temporário de Vicente Cândido, ex-dirigente da CBF e atualmente diretor de relações institucionais e internacionais do clube.
Na sessão, o conselheiro Carlos Eduardo Garcia de Miguel apresentou requerimento pedindo que o dirigente fique afastado de seu cargo até ser concluída investigação iniciada após delações que o envolveram na Lava Jato.
Delatores ligados a Odebrecht afirmam que ele recebeu, por meio de caixa 2, R$ 50 mil da construtora para sua campanha a deputado em 2010. A empresa teria interesse na ajuda dele em questões envolvendo financiamento relativo a fundos para a construção da Arena Corinthians.
Cândido nega ter cometido irregularidades. Por meio de sua assessoria de imprensa, antes de o pedido ser protocolado no conselho, o deputado e dirigente afirmou conhecer o assunto, mas considerar o tema irrelevante.
"Ainda que ele não seja culpado, essa situação denigre a imagem do clube. É um diretor que precisa se relacionar com outras instituições. Ele mesmo poderia pedir para se afastar enquanto as investigações são feitas. Falei no conselho: 'as empresas que têm departamento de compliance não vão querer negociar camarote, naming rights e patrocínio com quem tem um diretor nessa situação", declarou Miguel ao blog.
O tema também não foi colocado em pauta e deve ser discutido no encontro de fevereiro. Procurado, Goulart não atendeu aos telefonemas e nem respondeu às mensagens de texto.
Sobre o Autor
Ricardo Perrone é formado em jornalismo pela PUC-SP, em 1991, cobriu como enviado quatro Copas do Mundo, entre 2006 e 2018. Iniciou a carreira nas redações dos jornais Gazeta de Pinheiros e A Gazeta Esportiva, além de atuar como repórter esportivo da Rádio ABC, de Santo André. De 1993 a 1997, foi repórter da Folha Ribeirão, de onde saiu para trabalhar na editoria de esporte do jornal Notícias Populares. Em 2000, transferiu-se para a Folha de S.Paulo. Foi repórter da editoria de esporte e editor da coluna Painel FC. Entre maio de 2009 e agosto de 2010 foi um dos editores da Revista Placar.
Sobre o Blog
Prioriza a informação que está longe do alcance das câmeras e microfones. Busca antecipar discussões e decisões tomadas por dirigentes, empresários, jogadores e políticos envolvidos com o futebol brasileiro.