Opinião: clima para apresentação de Neymar mostra seleção estagnada
Perrone
25/05/2019 09h12
Neymar se apresenta hoje à seleção brasileira e inicia a contagem regressiva para a conversa que Tite prometeu ter com ele sobre a agressão a um torcedor na França.
O assunto deve voltar a dominar o noticiário esportivo no Brasil numa demonstração de que a seleção não saiu da estaca zero desde a Copa da Rússia.
Lembra como foi o dia seguinte à eliminação para a Bélgica no Mundial de 2018?
A entrevista de Edu Gaspar durante boa parte girou em volta de Neymar. Foi quando ele soltou a polêmica (e estúpida na opinião deste blogueiro) afirmação de que é difícil ser Neymar.
Quase um ano depois, a coletiva de Tite no anúncio da convocação para Copa América foi impregnada de Neymar por conta do episódio agressivo em solo francês, representando o PSG.
Ou seja: a seleção volta a um torneio oficial do mesmo jeito que saiu do último: discutindo Neymar. É a comprovação da estagnação do time.
A paralisia acontece em parte por conta do astro do PSG, obviamente. Homem feito (o rótulo de menino venceu faz tempo), ele ainda não colocou a cabeça no lugar. Segue chamando mais atenção fora de campo do que por lances geniais.
Mas a parcela de responsabilidade de Tite nessa falta de evolução é maior. O treinador não conseguiu nos mostrar que a seleção está no caminho de consolidar um estilo marcante. um padrão de jogo que não dependa tanto de um jogador, por mais craque que ele seja ou que a comissão técnica pense que ele é.
O melhor jeito de blindar a seleção dos extracampo de Neymar é ela ser competitiva com ou sem ele. É não depender tanto de um só jogador. Mas Tite não consegue isso porque não faz o time decolar.
Como na Rússia chegamos à Copa América dependendo mais do desempenho dos principais jogadores do que da força coletiva para sorrir. Difícil acreditar que Tite consiga uma transformação durante a competição. Isso leva tempo, já deveria ter começado. O que dá para esperar é que ele, finalmente, comece a esboçar um time forte coletivamente. Uma equipe que não sofra interferência se um craque estiver em guerra pessoal contra o mundo. Ou melhor, se imaginar que existe esse "eu e minha família contra todos".
Sobre o Autor
Ricardo Perrone é formado em jornalismo pela PUC-SP, em 1991, cobriu como enviado quatro Copas do Mundo, entre 2006 e 2018. Iniciou a carreira nas redações dos jornais Gazeta de Pinheiros e A Gazeta Esportiva, além de atuar como repórter esportivo da Rádio ABC, de Santo André. De 1993 a 1997, foi repórter da Folha Ribeirão, de onde saiu para trabalhar na editoria de esporte do jornal Notícias Populares. Em 2000, transferiu-se para a Folha de S.Paulo. Foi repórter da editoria de esporte e editor da coluna Painel FC. Entre maio de 2009 e agosto de 2010 foi um dos editores da Revista Placar.
Sobre o Blog
Prioriza a informação que está longe do alcance das câmeras e microfones. Busca antecipar discussões e decisões tomadas por dirigentes, empresários, jogadores e políticos envolvidos com o futebol brasileiro.