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Torcida única em Palmeiras x Fla soa como retaliação e aumenta rivalidade

Perrone

30/11/2019 09h53

O veto à presença de torcedores do Flamengo no jogo deste domingo no Allianz Parque contra o Palmeiras fede a clubismo. A medida, tomada a partir de iniciativa do Ministério Público e da Polícia Militar, soa como uma infantil retaliação à cantoria dos jogadores rubro-negros "acusando" o alviverde de não ter mundial e copinha. Parece coisa de palmeirense que se sentiu ofendido, ligou pra um amigo influente e deu a ideia. Algo como "provocaram agora vão ficar sozinhos em São Paulo".

Se as autoridades identificaram torcedores nas redes sociais agendando brigas, deveriam localizar os caras e tomar as medidas cabíveis. Porém, vetar o flamenguista no estádio é descabido. É como se a polícia recebesse a informação de que traficantes tentarão passar no aeroporto de Guarulhos com drogas num voo vindo de determinado país e proibissem as aeronaves partindo de lá de pousar em Cumbica em vez de se preparar para dar o flagrante.

Não bastasse ser infantil e injustificada, a medida aumenta a rivalidade entre os clubes o que pode gerar mais violência, apesar de o argumento para adotá-la seja evitar conflitos. O caso também piora a imagem do Palmeiras como anfitrião. A famigerada rede no setor de visitantes não incentiva torcedores adversários a comparecerem ao local. E, coincidentemente, também foi adotada tendo como argumento recomendação das autoridades de segurança pública.

Em 2015, o Ministério Público tentou impedir a torcida corintiana de entrar no Allianz no primeiro jogo entre as duas equipes no local. Na ocasião, o Corinthians conseguiu na Justiça o direito de ser acompanhado pela Fiel. À época, Mário Gobbi, que presidia o alvinegro, deu entrevista afirmando que Paulo Nobre, então presidente alviverde, tinha o interesse na torcida única porque para colocar os visitantes em seu estádio precisava deixar de vender uma grande quantidade de ingressos por questões de segurança.

Esportivamente, claro, o Flamengo é prejudicado porque recebeu palmeirenses como mandante e agora ficará sem seu público. Como consumidores, os torcedores rubro-negros também são prejudicados e num momento em que os que moram em São Paulo teriam a chance de abraçar o time após as conquistas do Brasileirão e da Libertadores.

A diretoria do Palmeiras se faz de morta. Ordens de cima. Não é com ela. Será que Maurício Galiotte acredita mesmo que não vai sofrer o contra-ataque quando seu time for jogar no Rio contra o Flamengo? Como o presidente palmeirense poderá agir se sua torcida for impedida de entrar em algum estádio brasileiro já que agora ficou de braços cruzados?

MP e PM têm a seu favor o argumento de que a torcida única diminuiu a violência nos dias de clássicos paulistas. Mas aqui não falamos da rivalidade estadual. Se for por esse caminho, é mais coerente que as autoridades tentem emplacar uma lei que só permita partidas com torcida única em São Paulo, uma bizarrice, mas valeria para todos, ninguém seria refém da vontade de um especialista em segurança pública.

Caso o interesse seja mesmo impedir confrontos entre palmeirenses e flamenguistas, as autoridades da área deveriam estar mais preocupadas com a aliança entre torcidas organizadas de Vasco e Palmeiras, que contribuiu para aumentar a hostilidade aos rubro-negros em São Paulo e aos alviverdes no Rio. Esse pacto também aumentou animosidade entre vascaínos e corintianos.

É básico: problemas recorrentes de violência no futebol se resolvem com trabalho de inteligência e aplicação da lei, não criando injustiças em campeonatos e agindo com a mesma serenidade de um torcedor derrotado e provocado pelo adversário vencedor.

Atualização

No início da tarde deste sábado (30), quando este post já tinha sido publicado, o Palmeiras divulgou nota sobre o tema em seu site oficial. Leia abaixo o comunicado na íntegra.

A"torcida é parte fundamental do espetáculo e, na visão do Palmeiras, qualquer partida deve ter a participação de todos.

No entanto, a segurança é um bem maior a ser preservado, e a Polícia Militar e o Ministério Público são as autoridades competentes para avaliar as condições de segurança de um evento, até porque são agentes ativos no processo.

O Palmeiras não tem elementos técnicos para avaliar ou julgar as medidas de segurança recomendadas pela Polícia Militar ou Ministério Público e irá respeitar as orientações das autoridades competentes e da CBF.

O Palmeiras lamenta profundamente que ainda tenhamos esse tipo de situação no futebol brasileiro, mas não é agente de segurança pública e não possui ingerência para posicionamento contrário.

De toda forma, o Palmeiras roga para que tenhamos um grande evento esportivo sem maiores intercorrências neste fim de semana, e desde já propõe que autoridades e entidades esportivas, de prática e de administração, se unam para buscar uma solução definitiva e satisfatória para o problema da segurança, que não passe por restringir os direitos de torcedores".

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Sobre o Autor

Ricardo Perrone é formado em jornalismo pela PUC-SP, em 1991, cobriu como enviado quatro Copas do Mundo, entre 2006 e 2018. Iniciou a carreira nas redações dos jornais Gazeta de Pinheiros e A Gazeta Esportiva, além de atuar como repórter esportivo da Rádio ABC, de Santo André. De 1993 a 1997, foi repórter da Folha Ribeirão, de onde saiu para trabalhar na editoria de esporte do jornal Notícias Populares. Em 2000, transferiu-se para a Folha de S.Paulo. Foi repórter da editoria de esporte e editor da coluna Painel FC. Entre maio de 2009 e agosto de 2010 foi um dos editores da Revista Placar.

Sobre o Blog

Prioriza a informação que está longe do alcance das câmeras e microfones. Busca antecipar discussões e decisões tomadas por dirigentes, empresários, jogadores e políticos envolvidos com o futebol brasileiro.


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