Opinião: Palmeiras reage de maneira diferente em caso de veto à sua torcida
Perrone
08/12/2019 09h39
Ao se manifestar contra o veto à sua torcida na partida deste domingo (8) diante do Cruzeiro, o Palmeiras teve uma posição mais agressiva do que adotou quando os flamenguistas foram barrados no Allianz Parque na semana passada.
Em relação ao jogo no Mineirão, o clube paulista emitiu nota falando em "depreciação do produto futebol" e afirmando que a torcida única "não deve jamais ser aplicada de maneira casuística, visando vantagem competitiva". Há aqui uma insinuação de que a recomendação do Ministério Público mineiro tem a ver com ajudar os cruzeirenses a vencerem o duelo, resultado fundamental para o time de Belo Horizonte tentar evitar o rebaixamento no Brasileirão.
Porém, ao comentar a proibição aos flamenguistas em seu estádio, a direção alviverde não falou em casuísmo em busca de favorecimento competitivo. Na ocasião, apesar de argumentar que os jogos sempre devem ter a participação das duas torcidas, o clube paulista foi muito mais compreensivo com a recomendação da Polícia Militar e do Ministério Público, que culminou com a exclusão dos rubro-negros.
"No entanto, a segurança é um bem maior a ser preservado, e a Polícia Militar e o Ministério Público são as autoridades competentes para avaliar as condições de segurança de um evento, até porque são agentes ativos no processo. O Palmeiras não tem elementos técnicos para avaliar ou julgar as medidas de segurança recomendadas pela Polícia Militar ou Ministério Público e irá respeitar as orientações das autoridades competentes e da CBF", escreveu a direção palmeirense antes do jogo com o Flamengo. É nítida a diferença de postura dos palmeirenses nos dois casos.
De fato, brigar publicamente contra uma medida de segurança sugerida pelas autoridades da área é arriscado. Se acontece algo de ruim, quem conseguiu impedir a decisão está lascado. Porém, é sabido que todos os grandes clubes do Brasil têm corrida para agir nos bastidores para fazer valer seus desejos. Seja para vetar a presença de visitantes em seu estádio ou para derrubar tal impedimento.
Na opinião deste blogueiro, o Palmeiras não se esforçou para colocar os rubro-negros em seu estádio e já levou o troco, como eu já esperava que acontecesse, mas não tão rapidamente. O Cruzeiro foi ao STJD pedir a torcida única, saiu derrotado, mas viu o MP mineiro agir e o Tribunal de Justiça do Estado conceder liminar para a realização do jogo só com torcedores do time da casa.
O desfecho do caso é mais um indício de que cada vez teremos mais jogos com torcida única no país. Palmeiras x Flamengo foi o primeiro duelo interestadual com esse tipo de determinação. Já na rodada seguinte, o Flamengo anunciou a venda de ingressos reservados ao Avaí pra os rubro-negros alegando que os visitantes não exerceram seu direito de compra dentro do prazo estipulado. Os catarinenses contestam essa versão.
Para este jornalista, está claro que a maioria dos grandes clubes mandantes não gosta de receber visitantes. Por falta de visão comercial, a preferência é lotar seu estádio apenas com seus seguidores, criando um clima mais hostil para os adversários. Para a Polícia Militar, jogo com torcida única representa uma logística a menos: a de isolar os visitantes. É menos desconfortável.
Assim, caminhamos para um futebol ainda mais sem sal, com torcida única e notas oficiais casuísticas, como as duas emitidas recentemente pela diretoria do Palmeiras sobre o tema. Tadinho do torcedor brasileiro.
Sobre o Autor
Ricardo Perrone é formado em jornalismo pela PUC-SP, em 1991, cobriu como enviado quatro Copas do Mundo, entre 2006 e 2018. Iniciou a carreira nas redações dos jornais Gazeta de Pinheiros e A Gazeta Esportiva, além de atuar como repórter esportivo da Rádio ABC, de Santo André. De 1993 a 1997, foi repórter da Folha Ribeirão, de onde saiu para trabalhar na editoria de esporte do jornal Notícias Populares. Em 2000, transferiu-se para a Folha de S.Paulo. Foi repórter da editoria de esporte e editor da coluna Painel FC. Entre maio de 2009 e agosto de 2010 foi um dos editores da Revista Placar.
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