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"Armadilha" do SPFC aponta vice como suspeito de vazar documentos

Perrone

10/01/2020 04h40

Com José Eduardo Martins, do UOL, em São Paulo

A diretoria do São Paulo registrou em cartório apuração que deixa o vice-presidente Roberto Natel sob suspeita de vazar informações para um suposto hacker que chantageava dirigentes e conselheiros. Natel nega ter vazado arquivos do clube.

O blog teve acesso às atas notariais que revelam uma operação digna de filme de investigação policial para tentar descobrir a origem de vazamentos de documentos do clube.


Nove pessoas, entre conselheiros e diretores, receberam do departamento financeiro, por e-mail, o documento "Versão Final Orçamento 2020". Conforme apresentado para uma representante do 22° Tabelião de Notas de São Paulo, havia uma armadilha em cada e-mail. Erros de acentuação, diferenças de pontuação e outras particularidades personalizaram os relatórios.

Com os registros em mãos, representantes do clube checaram a cópia enviada pelo suposto hacker e constataram que a palavra prêmios (referentes ao Paulista) estava escrita sem acento. Esse erro foi cometido propositalmente apenas na versão enviada para Natel.

Ao menos uma das imagens registradas na ata notarial mostra o e-mail contaminado obtido pelo chantagista enviado para o presidente tricolor, Carlos Augusto de Barros e Silva, o Leco.

"Estou absolutamente tranquilo. Não repassei nenhum documento do São Paulo para ninguém. Tenho todo interesse que investiguem isso até o fim", afirmou Natel, ao blog.

O vice se tornou desafeto do presidente. "Se eu tiver que bater no Leco, bato na frente dele. Não preciso vazar algo e não assumir. Vejo mais alguém querendo fabricar algo para me expulsar do clube do que outra coisa", declarou Natel.

Ele afirmou que deve ter recebido a cópia do documento usado como armadilha por e-mail, mas que provavelmente não abriu o arquivo.
O dirigente disse não descartar a possibilidade de ter sido hackeado. "Se o hacker pode entrar no computador dos outros para pegar documentos do São Paulo, por que não pode entrar no meu?", afirmou.

Segundo o blog apurou, a diretoria do São Paulo se baseia em um levantamento técnico para apontar que sua rede não foi invadida.

A operação

Com a ajuda de especialistas na área, a direção elaborou a pegadinha para tentar identificar a natureza dos vazamentos e seus responsáveis.

Internamente, o discurso é de que a diretoria cumpriu seu dever de proteger a instituição, sem interesse político e perseguição.

Os passos para tentar elucidar o caso do suposto hacker, alvo também de inquérito policial, foram meticulosamente estudados.

Em 26 de novembro do ano passado, Érica Duarte Pinto Alves, advogada do São Paulo, requereu que Thays Silva dos Santos, escrevente do 22° Tabelião de Notas, fosse até a sede do clube.

No Morumbi, foram apresentados para a funcionária do cartório e-mails enviados para diretores do clube por Edward Lorenz, o suposto hacker. Até Leco estava entre os destinatários.

Nas mensagens, ele exibia documentos do clube e cobrava R$ 1 milhão para não vazar o material.

Em 3 de dezembro, a advogada do São Paulo foi ao cartório e pediu que a mesma funcionária acessasse um perfil no Twitter associado ao suposto invasor digital.

As imagens registradas em ata notarial do dia 10 de dezembro mostram documentos internos do São Paulo.

A ideia aqui era reforçar que alguém usando o nome Edward Lorenz de fato tinha arquivos do São Paulo.

Em 5 de dezembro, a escrevente foi chamada de novo ao Morumbi. Dessa vez para registrar a armadilha preparada pela diretoria tricolor.

A escrevente, então, verificou que Sérgio Augusto Fonseca Pimenta, executivo do departamento financeiro do São Paulo, havia enviado o e-mail com o título "Versão Final Orçamento 2020" para oito pessoas, além de Natel.

São conselheiros, diretores executivos e outros funcionários com atribuições que justificam o recebimento do relatório. Na lista estão Júlio Casares, Rodrigo Gaspar,  Alexandre Pássaro, José Eduardo Mesquita Pimenta, Elias Albarello, Adilson Martins, João Fernando Rossi e Sílvio Médici.

Na ata notarial, a escrevente descreve a particularidade de cada e-mail. Ela cita que o endereço identificado pela advogada do clube como sendo o de Natel recebeu texto com a inscrição "Premios Camp. Paulista" sem acento em "prêmios".

A escrevente relata que, a pedido da advogada do São Paulo, constatou que arquivos recebidos do suposto hacker têm a mesma particularidade do e-mail enviado para o endereço que, segundo ela, pertence a Natel.

A afirmação é sustentada por imagens registradas pela escrevente. Pelo menos uma delas aparece como sendo enviada para Leco pelo chantagista.

Até a publicação deste post, o departamento de comunicação do São Paulo não havia respondido a questionamentos do blog sobre o tema.

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Sobre o Autor

Ricardo Perrone é formado em jornalismo pela PUC-SP, em 1991, cobriu como enviado quatro Copas do Mundo, entre 2006 e 2018. Iniciou a carreira nas redações dos jornais Gazeta de Pinheiros e A Gazeta Esportiva, além de atuar como repórter esportivo da Rádio ABC, de Santo André. De 1993 a 1997, foi repórter da Folha Ribeirão, de onde saiu para trabalhar na editoria de esporte do jornal Notícias Populares. Em 2000, transferiu-se para a Folha de S.Paulo. Foi repórter da editoria de esporte e editor da coluna Painel FC. Entre maio de 2009 e agosto de 2010 foi um dos editores da Revista Placar.

Sobre o Blog

Prioriza a informação que está longe do alcance das câmeras e microfones. Busca antecipar discussões e decisões tomadas por dirigentes, empresários, jogadores e políticos envolvidos com o futebol brasileiro.


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