Opinião: oferta do Ajax por Antony chegou perto do desrespeito
Perrone
01/02/2020 11h04
A oferta do Ajax por Antony beirou o desrespeito com o São Paulo, o jogador e o futebol brasileiro, de certa forma.
Em toda negociação, é natural que o eventual comprador tente pagar o mínimo possível e nas melhores condições. Mas há limites para manter a boa convivência.
É prudente não ultrapassar essa linha para não correr o risco de levar uma resposta atravessada do vendedor.
Na opinião deste blogueiro, o Ajax correu esse risco. Como mostrou o UOL Esporte, os holandeses ofereceram 15 milhões de euros (R$ 71,2 milhões) fixos pela compra de Antony. Outros cinco milhões de euros (R$ 23,7 milhões) só seriam pagos se atacante alcançasse determinadas metas. Como parte da mágica para sustentar que sua oferta é de 25 milhões de euros (cerca de R$ 118,2 milhões), o Ajax fez uma salada misturando negociações. Os outros cinco milhões de euros seriam referentes aos 20% dos direitos econômicos que o São Paulo ainda possui em relação a David Neres.
Só se os cartolas tricolores tivessem acabado de sair de um coffee shop de Amsterdam pra aceitar um negócio desses por Antony.
Teria sido mais bonito o Ajax falar: "seu jogador vale 15 millhōes de euros. Pago isso à vista". A negativa seria a mesma, mas não pegaria mal para os holandeses como pegou.
Chego a ver um vilão de desenho animado rindo, esfregando as mãos e dizendo: "vamos enrolar os caras".
Obviamente, se ofereceu cinco milhões de euros por 20% de Neres, o Ajax espera fazer uma venda melhor.
Foi como se o clube holandês dissesse: "sabemos que vocês estão quebrados e vão aceitar qualquer coisa".
De fato, o São Paulo está em crise financeira, mas não a ponto de pedir pelo amor de Deus para comprarem Antony.
O jogador também merecia mais respeito. É peça importante de um dos principais clubes brasileiros e da seleção brasileira sub-23.
Tudo bem que o longo histórico de jovens brasileiros que batem e voltam da Europa obriga os compradores a se defenderem oferecendo bônus por metas. Porém, o Ajax exagerou, principalmente ao misturar Neres na parada.
Sobre o Autor
Ricardo Perrone é formado em jornalismo pela PUC-SP, em 1991, cobriu como enviado quatro Copas do Mundo, entre 2006 e 2018. Iniciou a carreira nas redações dos jornais Gazeta de Pinheiros e A Gazeta Esportiva, além de atuar como repórter esportivo da Rádio ABC, de Santo André. De 1993 a 1997, foi repórter da Folha Ribeirão, de onde saiu para trabalhar na editoria de esporte do jornal Notícias Populares. Em 2000, transferiu-se para a Folha de S.Paulo. Foi repórter da editoria de esporte e editor da coluna Painel FC. Entre maio de 2009 e agosto de 2010 foi um dos editores da Revista Placar.
Sobre o Blog
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