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Análise do MP em 2011 já apontava erosões na área da Arena Corinthians

Perrone

01/12/2016 08h06

Erosões e cursos de água não são problemas novos na área da Arena Corinthians. Análise preliminar de danos ambientais feita por órgão ligado ao Ministério Público em 23 de agosto de 2011 e à qual o blog teve acesso mostra que o terreno já sofria com o surgimento de buracos antes de o estádio ser construído. O documento, produzido pelo CAEX (Centro de Apoio Operacional à Execução), vinculado ao MP como parte de inquérito civil instaurado em 2010, também cita a existência naquela época de "corpos d´água" que tinham sido aterrados.

Essas informações foram listadas antes de uma série de medidas serem sugeridas pelo CAEX. "Considerando… que a área próxima (ao local da construção) era uma mineração e, portanto, suas características ambientais foram muito modificadas, exigindo estudos sobre esses impactos. Em especial corpos d´água foram aterrados, foi construído um barramento, havia voçorocas (buracos de erosão causados pela água da chuva) e ainda hoje (2011) há processos erosivos. Que foram identificados corpos d´água na gleba objeto do projeto da Arena Corinthians Itaquera que, se existentes, enquadrariam a área onde não se pode ocupar e como Área de Preservação Permanente, segundo o Código Florestal. Espera-se portanto esclarecer se esses corpos d´água existem e qual a situação ambiental do terreno atualmente", diz trecho da análise para depois sugerir que seja feito "EIA – RIMA (Estudo de Impacto Ambiental/Relatório de Impacto ao Meio Ambiente) do empreendimento para a sua aprovação nos órgãos ambientais municipais e estaduais".

Porém, na contramão do pedido do MP, em 2010 antes de a obra ser iniciada e de o CAEX produzir sua análise, o Corinthians consultou a prefeitura e recebeu um ofício informando que o empreendimento não estava sujeito ao licenciamento ambiental, mas que precisava apresentar Relatório de Impacto de Vizinhança (RIVI). Esse parecer foi emitido em 17 de novembro de 2010 pelo Decont (Departamento de Controle da Qualidade Ambiental da prefeitura). Mais de quatro anos e meio depois,em julho de 2015, quando partidas já eram realizadas no estádio, o mesmo órgão considerou que o projeto tinha atendido 24 exigências para obter o RIVI. Assim, o EIA – RIMA citado pelo MP não foi feito.

Procurada pelo blog, a Odebrecht afirmou que as erosões ocorridas em 2016 na arena e reveladas pelo blog, além de buracos que apareceram na região de um dos estacionamentos,  nada têm a ver com às relatadas pelo MP em 2011, garantindo que o terreno é seguro. A construtora sustentou suas afirmações exibindo relatórios da prefeitura sobre o impacto de vizinhança.

Sobre os corpos d´água informados pelo CAEX, a Odebrecht declarou que quando a construção começou apenas um deles existia e já estava canalizado. Porém, ele precisou ser removido e não passa por baixo da área da arquibancada.

Em 26 de junho de 2011, foi publicada no Diário Oficial de São Paulo autorização da prefeitura para o Corinthians "interferir em recurso hídrico" na área da arena para "fins de drenagem" com "canalização em tubos de concreto".

A construtora também assegura que as infiltrações ocorridas no estádio não têm ligação com o córrego canalizado, pois são em áreas diferentes,

Abaixo, veja relatório do CAEX sobre erosões e corpos d'água na área da arena.

Rerpodução

Sobre o Autor

Ricardo Perrone é formado em jornalismo pela PUC-SP, em 1991, cobriu como enviado quatro Copas do Mundo, entre 2006 e 2018. Iniciou a carreira nas redações dos jornais Gazeta de Pinheiros e A Gazeta Esportiva, além de atuar como repórter esportivo da Rádio ABC, de Santo André. De 1993 a 1997, foi repórter da Folha Ribeirão, de onde saiu para trabalhar na editoria de esporte do jornal Notícias Populares. Em 2000, transferiu-se para a Folha de S.Paulo. Foi repórter da editoria de esporte e editor da coluna Painel FC. Entre maio de 2009 e agosto de 2010 foi um dos editores da Revista Placar.

Sobre o Blog

Prioriza a informação que está longe do alcance das câmeras e microfones. Busca antecipar discussões e decisões tomadas por dirigentes, empresários, jogadores e políticos envolvidos com o futebol brasileiro.