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O que era desejo da família de Marin virou promessa: vai contar o que sabe

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27/06/2015 06h46

Há um mês, José Maria Marin se preparava para deixar seu quarto num nababesco hotel na Suíça quando recebeu de policiais suíços e agentes do FBI voz de prisão. As cenas seguintes foram tragicômicas. O ex-presidente da CBF, sem falar inglês, queria levar para a cadeia a mala grande que trouxera do Brasil, enquanto os tiras exigiam que carregasse apenas uma maleta. No desespero, o cartola pediu pra Neusa, sua mulher, chamar Marco Polo Del Nero, que não chegou até que o amigo fosse levado para o cárcere.

Neusa, então, ficou sozinha. Precisou da ajuda da Conmebol para voltar para casa. Del Nero retornou antes. Nos dias que se seguiram, o sentimento de abandono da família do ex-presidente da Confederação Brasileira cresceu. A CBF não disponibilizou advogado para o cartola, retirou Marin da vice-presidência e sumiu com o nome dele da fachada da sede da entidade.

Nesse cenário, familiares de Marin deixaram transparecer mágoa com Del Nero. Contaram a amigos que confiavam na inocência do ex-presidente da CBF, mas que desejavam que ele contasse tudo que soubesse, mesmo que isso pudesse prejudicar outros dirigentes brasileiros.

O tempo passou. Neusa, até então ainda sem ver o marido desde a detenção, voltou para a Suíça, com uma advogada, cerca de aproximadamente 15 dias após a detenção. A sensação de que a cúpula do futebol virou as costas para Marin aumentou. O nome dele não aparece também na composição da diretoria da CBF no guia do Campeonato Brasileiro entregue para clubes e federações.

Então, o que era um desejo da família passou a ser uma promessa feita a amigos. "Marin vai falar o que sabe aos policiais", dizem parentes do cartola, mantendo o raciocínio de confiar na inocência dele e sem explicar se essa sabedoria pode incriminar alguém.

As palavras dos familiares, com peso de ameaça, aumentam a ansiedade de presidentes de federações, que curiosamente se queixam do fato de a imprensa não trazer novidades sobre as investigações. Principalmente, a respeito de quem são os outros dois dirigentes brasileiros suspeitos de receber propina na venda de direitos de transmissão de campeonatos.

Enquanto o mistério não for desvendado, eles seguirão mergulhados na incerteza que domina a cartolagem nacional desde que Marin foi preso. Ou na certeza de que muita coisa pode mudar, se o ex-presidente tiver algo relevante para contar e cumprir a promessa feita por seus parentes.

Sobre o Autor

Ricardo Perrone é formado em jornalismo pela PUC-SP, em 1991, cobriu como enviado quatro Copas do Mundo, entre 2006 e 2018. Iniciou a carreira nas redações dos jornais Gazeta de Pinheiros e A Gazeta Esportiva, além de atuar como repórter esportivo da Rádio ABC, de Santo André. De 1993 a 1997, foi repórter da Folha Ribeirão, de onde saiu para trabalhar na editoria de esporte do jornal Notícias Populares. Em 2000, transferiu-se para a Folha de S.Paulo. Foi repórter da editoria de esporte e editor da coluna Painel FC. Entre maio de 2009 e agosto de 2010 foi um dos editores da Revista Placar.

Sobre o Blog

Prioriza a informação que está longe do alcance das câmeras e microfones. Busca antecipar discussões e decisões tomadas por dirigentes, empresários, jogadores e políticos envolvidos com o futebol brasileiro.