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Qual a responsabilidade de Alexandre Kalil na dívida do Atlético-MG?

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23/05/2020 14h43

Com Thiago Fernandes, do UOL em Belo Horizonte

Alexandre Kalil é herói ou vilão na história do Atlético-MG? Ou um pouco de cada? À medida que a atual diretoria, comandada pelo presidente Sérgio Sette Câmara, se queixa de dívidas feitas por outras gestão e que precisa pagar, esse  assunto ferve no clube. Na esteira dessa discussão, o blog mergulhou em números oficiais e balanços da agremiação. Também entrevistou o ex-presidente, campeão da Libertadores em 2013, e atual prefeito de Belo Horizonte (a íntegra da entrevista está no final do post). Ele presidiu o Galo de 2008 a 2014.

A apuração começou com a obtenção de um documento produzido pela área financeira do Atlético e que mostra que Kalil foi responsável por 48% da dívida do clube com impostos parcelada pelo Profut. Um gráfico em formato de pizza registra que a maior fatia da dívida corresponde à administração de seis anos do atual prefeito, entre 2008 e 2014. A era Ricardo Guimarães, de 2001 a 2006, aparece em segundo lugar com 28%. Daniel Nepomuceno, sucessor de Kalil entre 2015 e 2017, é apontado como responsável por 4% da dívida. São atribuídos 3% desse débito a Ziza Valadares, que ficou no poder entre 2007 e 2008, e 17% a presidentes anteriores.

Também de acordo com relatório da área de finanças do Atlético, a dívida do Galo referente a impostos parcelada no Profut é de R$ 228. 209.769,13. Desse montante, débitos no valor de R$ 110.667.150 foram contraídos enquanto Kalil era o presidente. Esses valores levam em conta os descontos aplicados pelo programa já que o débito inicial era de R$ 340.418.627,66, de acordo com o mesmo documento. Críticos do ex-dirigente afirmam que o fato de ele ser hoje prefeito de Belo Horizonte torna o não pagamento de impostos ainda mais grave.

Kalil não contesta sua fatia na dívida, mas reclama de vazamentos de documentos e diz que, graças a dinheiro gerado em sua gestão, foram pagas antecipadamente parcelas do Profut até 2021. "Essa porcentagem (48% das dívidas no Profut feitas em sua gestão), é o seguinte, se você pegar o Profut, eu deixei pago (esse percentual). Eu deixei a dívida e deixei o pagamento. Deixei o meu imposto pago".

O ex-presidente se refere à receita gerada pela venda de Bernard para o Shakhtar Donetsk, da Ucrânia, em 2013. Na ocasião, cerca de R$ 40 milhões, em valores da época, referentes à venda foram bloqueados pela Justiça Federal por causa de dívidas tributárias do Galo. Em 2014, o clube conseguiu aderir ao programa de refinanciamento Refis e pôde usar a receita bloqueada na transferência de Bernard para quitar parte do parcelamento. Em 2017, o Atlético aderiu ao Profut, transferindo esse crédito para lá.

Pessoas ligadas à atual administração afirmam que o que aconteceu é diferente de Kalil pagar as dívidas que deixou. Sustentam que o pagamento só foi feito porque o dinheiro foi bloqueado. Além disso, de acordo com o relatório do clube sobre as dívidas parceladas pelo Profut, a fatia referente à era Kalil supera a quantia usada para antecipar parcelas do Profut. Foram transferidos para o Profut cerca de R$ 59 milhões.

"Ah, eu fui obrigado (a entregar o dinheiro da venda de Bernard por conta do bloqueio). Tá bom, claro que eu fui obrigado. Se eu recebesse o dinheiro, eu iria pagar (parte dos impostos devidos)" afirmou Kalil.

Relatório sobre o parcelamento feito pelo Atlético no Profut tinha em 31 de março deste ano cerca de R$ 86,4 milhões para serem pagos até o final do programa.

Herança

O prefeito de Belo Horizonte diz que quando sentou na cadeira presidencial do Galo também havia dívidas antigas. Então, argumenta ele, optou por pagar débitos de outras gestões para recuperar o crédito do clube e deixar para depois a quitação de contas de sua gestão.

Outro ponto sensível na discussão é a quantidade de dívidas pagas pela atual gestão referentes a jogadores comprados por outros presidentes e que acabaram gerando ações de cobrança, inclusive na Fifa.

Planilha elaborada pelo setor financeiro do clube e obtida pela reportagem aponta que a atual gestão, de acordo com suas contas, já quitou  R$ 86.503.126,12 milhões relativos a débitos relacionados a jogadores contratados por outras diretorias e que estavam em litígio.

A planilha traz dívidas relacionadas às contratações dos seguintes jogadores na gestão de Kalil:

Danilinho – US$ 60 mil.
Maicosuel – 450 mil euros e R$ 13.172.718,48.
André –  200 mil euros.
Réver – 1 milhão de euros.
André –  300 mil euros e 2,1 milhões de euros.
Leonardo Silva – R$ 796,5 mil.
Maicosuel – 825 mil euros.
Cáceres – US$ 1,6 milhão
Tardelli – R$ 859,4 mil e  US$ 3,04 milhões.
Nessa lista, porém, não estão computados juros, multas e correções.

No documento também há negociações feitas Daniel Nepomuceno e que geraram dívidas pagas pela diretoria atual para acabar com litígios. Aparecem as seguintes operações:

Elias – 266,6 mil euros, 900 mil euros e 333,3 mil euros.

Douglas Santos – 591,8 mil euros.

Rafael Carioca – 1,1 milhão de euros.

Otero – 654 mil euros e R$ 574,5 mil.

Prejuízo?

Os críticos de Kalil afirmam que ele trouxe muitos jogadores que saíram do clube sem dar lucro. O ex-cartola reabate afirmando que a culpa é de seus sucessores que venderam atletas e não pagaram as dívidas geradas por suas aquisições.

"Essa relação de jogadores, isso é ridículo, né? Todo mundo aqui foi vendido. Não fui eu que vendi. Tirando o Danilinho, que eu mandei embora por indisciplina, todos esses jogadores foram (vendidos). O Tardelli, ele foi vendido, sô. Não fui eu que vendi, não. Por que não pagaram o Tardelli? Por que não pagaram o Tardelli lá na Fifa? Por que eu não tive nenhum caso na Fifa? Porque, quando eu vendia o jogador, eu pagava. Eu comprei o Maicosuel por 3,3 milhões de euros. O Daniel emprestou o Maicosuel por 2 milhões de euros. Depois vendeu para o São Paulo por mais 1 milhão de euros. Por que isso tá na minha conta? Nessa lista, os meus sucessores venderam esses jogadores todos. Mas optaram, aí tem que perguntar para eles, pôr no custeio, pagar a folha", declarou Kalil.

O ex-presidente afirma que deixou uma "máquina" para seu sucessor, Nepomuceno. O argumento não convence os integrantes da atual diretoria, que listam jogadores que não deram retorno financeiro. Na relação apontada por eles, aparece, por exemplo, o meia-atacante Guilherme, contratado por 8,6 milhões de euros e que deixou o clube após rescindir seu contrato amigavelmente, sem gerar receitas. Na relação também está André Bebezão, adquirido por 8 milhões de euros e que, em sua saída, gerou receita de aproximadamente 2,9 milhões de euros. Dudu Cearense entra na relação, que ainda tem outros atletas, com investimento de 1 milhão de euros e nenhum retorno financeiro.

Bom negociador?

"Eu comprava bem e vendia bem. Claro que tem mal negócio no futebol. Deve ter mal negócio. Em seis anos deve ter um monte de mal negócio no Atlético. Isso é do futebol, é da bola. Agora não tem nada mal intencionado, não fui perdulário", defende-se Kalil.

O blog também teve acesso a um levantamento feito por membros da atual gestão com base nos balanços financeiros do Atlético-MG. A pesquisa feita pela equipe de Sette Câmara aponta que nos seis anos de administração de Kalil foi gerada uma receita bruta com a venda de jogadores no valor de R$ 119.328.123,00 e que em dois anos a atual gestão arrecadou com a negociação de atletas R$ 186.823.867.00.

O prejuízo apurado nos balanços publicados nos seis anos de administração do ex-presidente, segundo o mesmo levantamento, foi de R$ 183.541.527,00.

Por sua vez, Kalil exalta a venda de Bernard para o Shakhtar Donetsk, em 2013. "A venda do Bernard foi a maior da história do Atlético. Na época eram R$ 84 milhões. É só você pegar 25 milhões de euros e multiplicar por 6,5 e você tem por quanto eu vendi o Bernard. Foram 25 milhões de euros à vista", disse o ex-presidente.

O prefeito de Belo Horizonte crítica a atual diretoria por ainda não ter publicado o balanço de 2019, o que deveria ter ocorrido até o final de abril.

A direção atleticana diz que não cometeu irregularidade. Alega que as regras de distanciamento social para combater a Covid-19 e análise da venda de um shopping feita pelo clube em janeiro geraram atrasos e impediram reunião do Conselho Deliberativo para aprovar o balanço.

Procurado para falar sobre as dívidas feitas na gestão de Kalil, o atual presidente disse que não iria se manifestar. Porém, em recente entrevista ao blog, ao comentar sobre dívidas deixadas por outras gestões, sem citar nomes, ele afirmou: "não tem mais lugar para irresponsabilidade de sair comprando jogador e achar que não vai dar em nada. Não é só ficar levantando caneco e deixar a herança maldita para os outros presidentes. A conta chegou. E caiu no meu colo".

Guimarães não quis comentar a respeito das dívidas em seu mandato. Nepomuceno não foi encontrado pela reportagem após o envio de mensagens e telefonemas.

A seguir  leia na íntegra o que disse Kalil ao blog sobre o tema.

"Quando eu entrei no Atlético, estou te dando valores de 2012 e 2013, precisa trazer esses valores para hoje. O Atlético devia R$ 30 milhões de fundo de garantia que não eram pagos desde 1994. Tributos municipais executados, R$ 10 milhões, 250 ações em curso. Tudo quitado, tá? Eu quitei. Fornecedores, a gente tinha 180 protestos, de R$ 16 milhões. Foi tudo quitado. Está nos meus balanços. Passivos trabalhistas quitados no meu mandato foram em R$ 80 milhões. Mais salários e 13º, que naquela época eram baixos, não eram como hoje, eu tinha R$ 5 milhões.

Então, o que que eu fiz? Eu priorizei o pagamento do que estava para trás porque eu tinha que viabilizar o crédito do Atlético. Eu tinha que voltar, porque o Atlético estava bloqueado. Entendeu?

Então, o que aconteceu? Eu paguei… O Atlético deve imposto desde 1986, estou falando dos que eu quitei. Então, eu paguei os que inviabilizavam o Atlético, e deixei de pagar os meus (de sua gestão). Se eu pago o meu, estou inviabilizado do mesmo jeito. Não teria dinheiro para pagar nem o meu. Aí aconteceu o seguinte: com a venda do Bernard, que foram dívidas realmente… Por que o que acontece? Priorizei o pagamento para trás. Se você somar, vai dar, em valor de hoje, R$ 170 milhões. Aí, quando veio o negócio do Bernard, que pegaram (bloquearam) o dinheiro, além de eu colocar o Atlético lá (no Refis), eu falei: 'o negócio é o seguinte, vamos fazer o que com o dinheiro?

Aí deu uma briga danada. Tive dez reuniões com o (Luís Inácio Lucena) Adams, que na época era o chefe da AGU no governo da Dilma. Ele falou; 'Kalil, já desbloqueamos parte do dinheiro, paga o imposto, entra no Refis'. Fui o único clube do Brasil que entrou no Refis. Aí, logicamente… Aí não sou eu mais. Aí já foi o meu sucessor (Daniel Nepomuceno). Só pra você ter ideia, eu deixei o Refis pago para o Atlético no acordo até 2021. De 2014 a 2021, nenhum dos dois presidentes pagaram o Profut (para o qual dívidas do Refis migraram). Tá pago (até 2021).

Quem bloqueou o dinheiro (da venda de Bernard), eles sabem (atuais dirigentes), porque eles participaram, eles estavam dentro do Atlético, foi coisa pessoal. Não comigo, inclusive, com conselheiros aliados. O juiz foi afastado do caso. Ele teve suspeição no caso, só pra você ter uma ideia da gravidade do que ele fez (bloquear a verba). Isso está tudo documentado, só você ir na internet que você vai achar. Entendeu?

Essa porcentagem (48% das dívidas no Profut feitas em sua gestão), é o seguinte, se você pegar o Profut, eu deixei pago (esse percentual). Eu deixei a dívida e deixei o pagamento. Deixei o meu imposto pago. Ah, eu fui obrigado. Claro, Tá bom, claro que eu fui obrigado. Se eu recebesse o dinheiro, eu iria pagar. O Atlético era uma máquina de dinheiro. Atlético x Olimpia (pela Libertadores) ,se você corrigir a renda, deu R$ 20 milhões, é a maior renda de todos os tempos (no Brasil), inclusive de seleção brasileira.

Fui obrigado a pagar, mas eu iria pagar mesmo. A venda do Bernard foi a maior da história do Atlético. Na época eram R$ 84 milhões. É só você pegar 25 milhões de euros e multiplicar por 6,5 e você tem por quanto eu vendi o Bernard. Foram 25 milhões de euros à vista.

Protesto zero, dívida trabalhista zero, tudo zero.

Essa relação de jogadores, isso é ridículo, né? Todo mundo aqui foi vendido. Não fui que vendi. Tirando o Danilinho, que eu mandei embora por indisciplina, todos esses jogadores foram. Vou te dar um exemplo que é típico aqui. O Tardelli, ele foi vendido, sô. Não fui eu que vendi, não. Por que não pagaram o Tardelli? Por que não pagaram o Tardelli lá na Fifa? Por que eu não tive nenhum caso na Fifa? Porque, quando eu vendia o jogador, eu pagava.

Maicosuel, vou te dar o exemplo do Maicosuel. Eu comprei o Maicosuel por 3,3 milhões de euros. O Daniel empresou o Maicosuel por 2 milhões de euros. Depois, vendeu para o São Paulo por mais 1 milhão de euros. Por que isso tá na minha conta? Nessa lista, os meus sucessores venderam esses jogadores todos. Mas optaram, aí tem que pergunatar para eles, pôr no custeio, pagar a folha, fazer não sei o que".

Sobre críticas de contratar jogadores que teriam custado caro e não teriam se valorizado

"O Maicosuel custou para o Atlético 300 mil euros. Sabe quanto títulos ele tem no Atlético? Quatro. Isso é só um exemplo. Tardelli foi vendido por mais de três milhões. Porque não pagaram o Tardelli? Pergunta para o outro presidente, ué. Então, quando nós chegamos no Atlético, encontramos dívidas com clube, atleta, e liquidamos. Sem preocupação de qual gestão que era (a origem do débito). Nunca. Todos os nossos dinheiros foram dentro do nossos mandatos, com contrato da Globo, garantia da Globo, e a gente tinha crédito no banco porque a gente tinha feito esse negócio com os impostos, que pagamos depois. E, para encerrar as suas questões, são 29 títulos (contando categorias desde base) em seis anos (de gestão).

Isso que aconteceu no Atlético, eu parabenizo o jornalista, mas fico muito triste. Documentos de contabilidades, que foram aprovados. Veja bem, todas as minhas contas foram aprovadas. Inclusive, esses que vazaram essa documentação para vocês estavam na reunião, por unanimidade. Em seis anos, as contas foram aprovadas por unanimidade. Enquanto eles, que estão vazando documentos (nota do blog: não foi dito para Kalil como foi obtida a documentação), talvez por isso que eles não publicaram o balanço (de 2019) até hoje, burlando a lei, porque eles estão mexendo em documento de seis anos, sete anos atrás.

Então, desconstruir a história que eu construí no Atlético é muito difícil. Porque balanço meu era enviado para o conselho na data certa, tinha o tempo certo para o conselho avaliar, ia para o conselho fiscal antes, era distribuído para o conselho e nunca um conselheiro do Atlético levantou a mão para questionar 'a','b' ou 'c'. Nunca eu tive um voto contra.

Sobre levantar caneco e deixar contas

Não tenho relação com esse presidente do Atlético. Não converso com ele há dois anos. Não tenho que responder para ele. Atlético, não tenho que responder a ninguém. Desculpa por minha modéstia, Clube Atlético Mineiro, eu não tenho que responder a ninguém. Eu me nego a responder sobre Atlético. Os que poderiam debater comigo estão debaixo da terra. São Nélson Campos e Elias Kalil. São os que podiam conversar em Atlético comigo, já morreram há muitos anos, por sinal.

Vitorioso em campo, mas e nas finanças?

Tá no balanço, acabei de explicar tudo. Essa consulta, que você está fazendo como bom jornalista, porque eles vazaram documento de dentro do Atlético, é infantil, sô! Por isso que tem que ter prioridade. Eu peguei o Atlético com R$ 19 mil em caixa, quatro meses de salário atrasado e R$ 2 milhões em cheques sem fundos na rua. Tá no balanço. Eu apresentava balanço. Já era obrigado apresentar balanço na minha época. E balanço fraudulento é crime. Levantar coisa de seis, sete anos atrás para me agredir no Atlético? No Atlético não tem jeito de me agredir, sô. Eu larguei uma máquina, larguei isso tudo para eles venderem. Larguei o Atlético campeão da Copa do Brasil, eles venderam todo mundo. Meu sucessor vendeu todo mundo. São dois presidentes depois de mim. Porque o outro presidente (Nepomuceno) não falou nada, ficou calado?

A minha indignação é soltar documento que está prescrito, prescreve em cinco anos, e que foi aprovado por unanimidade, com duas auditorias, com insinuações, entendeu? Eles sabem perfeitamente, essa atual diretoria sabe que o Tardelli foi vendido, que o Maicosuel foi vendido, que o Réver foi vendido, que todo mundo foi vendido e não foi pago. O Maicosuel tinha uma parcela na minha gestão, foi paga. As outras eram para dois anos depois.

Leonardo Silva veio de graça. Você quer que eu escale o time do Atlético campeão da Libertadores? Eu escalo.

Dívidas feitas

Eu larguei dívida, larguei dois meses de salários atrasados, avisei para o presidente do Atlético. Peguei dívida e deixei dívida. Com planejamento. Você conhece algum clube em que o presidente sai e não deixa dívida? Só que eu saí e falei: 'tá aqui. você tá com uma máquina na mão. Tá com um timaço na mão'. Foi aparecendo proposta, foi vendendo.

Ações

O que aconteceu foi o seguinte, antes de ter que pagar o Tardelli, eles venderam o Tardelli. Maicosuel foi a mesma coisa. Eles venderam o Tardelli. Por que eles não pagaram o Tardelli? Por que não pagaram o Maicosuel? Cáceres eu acho que nem é do meu tempo. Eu acho, porque já tem tanto tempo. Agora, ficar futricando papel e dando na mão da imprensa. Essa baixeza nunca teve no Atlético. O Atlético só teve gente séria lá dentro. Cada um agasalhou e foi tocar, tentar ser vencedor. Porque constuir é muito difícil. Agora, vou te pedir um único favor: colocar a minha indignação do vazamento de documentação legítima, contabilizada e aprovada por unanimidade no conselho do Atlético. Não tem anda aí que não está no balanço do Atlético. As dívidas nunca foram escondidas, as receitas nunca foram escondidas.

Entreguei o Atlético com quase R$ 300 milhões de faturamento. Recebi (o clube) com R$ 33 milhões. Fiz a revolução no Clube dos 13, que nos passamos o futebol brasileiro para R$ 1,1 bilhão. Encabecei aquilo com o doutor Fábio Koff, cê esqueceu? Agora, vou discutir com essa diretoria Atlético? Vocês estão brincando comigo.

A situação atual do Atlético

Não conheço, não sei, o balanço não saiu. Chegou uma carta do conselho dizendo que o balanço não saiu. Tá com problema. Eu não, todos os números que você veio me questionar estão no balanço do Atlético. Repito, aprovado pelo Conselho Deliberativo por unanimidade. Qualquer ano da minha gestão, pode escolher. Todos. Será que eu sou tão poderoso assim dentro do Atlético que não teve um dedinho para levantar e falar: 'opa, isso aqui tá errado'?

Eu não tomava conhecimento. Entregava para os técnicos fazerem. Só não podia fantasiar nada. Eu quero é saber onde está o dinheiro de todos esses jogadores que foram vendidos e quem vendeu. É só isso. Eu quero saber onde eles enfiaram o dinheiro da venda desses jogadores. Tem que ir no balanço depois de mim e ver quem vendeu o jogador. Onde é que foi parar? Eles deram o Tardelli para os outros? Eles deram o Maicosuel? Deram o Réver? Se deram eu não tenho culpa. Eu compra e vendia. Comprava bem e vendia bem. Claro que tem mal negócio no futebol. Deve ter (mal negócio na lista). Em seis anos deve ter um monte de mal negócio no Atlético. Isso é do futebol, é da bola. Agora não tem nada mal intencionado, não fui perdulário.  Atlético eu discuto com Valmir Pereira, Nelson e Kalil. Com o resto eu não discuto. Não tem jeito de discutir comigo. São 29 títulos de todas as categorias. Eu fico profundamente decepcionado de, enquanto não entregam o balanço do ano, estão futricando balanços oficiais do clube, aprovados pelo conselho deliberativo em todos os anos por unanimidade. Só isso que eu fico triste. Coisa inédita no Atlético.

O meu sucessor, o Daniel, contratou Pratto, Robinho, como eu deixei o Atlético quebrado? Fred, que isso? Tá doido?"

 

Sobre o Autor

Ricardo Perrone é formado em jornalismo pela PUC-SP, em 1991, cobriu como enviado quatro Copas do Mundo, entre 2006 e 2018. Iniciou a carreira nas redações dos jornais Gazeta de Pinheiros e A Gazeta Esportiva, além de atuar como repórter esportivo da Rádio ABC, de Santo André. De 1993 a 1997, foi repórter da Folha Ribeirão, de onde saiu para trabalhar na editoria de esporte do jornal Notícias Populares. Em 2000, transferiu-se para a Folha de S.Paulo. Foi repórter da editoria de esporte e editor da coluna Painel FC. Entre maio de 2009 e agosto de 2010 foi um dos editores da Revista Placar.

Sobre o Blog

Prioriza a informação que está longe do alcance das câmeras e microfones. Busca antecipar discussões e decisões tomadas por dirigentes, empresários, jogadores e políticos envolvidos com o futebol brasileiro.