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Contas do Santos têm empréstimo de agente e dívida de boca com Robinho

Perrone

26/03/2018 04h00

Nesta segunda (26), o conselho deliberativo do Santos vota se aprova as contas do clube referentes a 2017, último ano de Modesto Roma Júnior na presidência. O conselho fiscal da agremiação preparou parecer recomendando que os conselheiros reprovem as contas. Valores que envolvem Robinho, dinheiro emprestado por um influente empresário e até o direito do alvinegro receber uma pequena fatia relativa à venda de Neymar para o PSG fazem parte da celeuma.

Se houver reprovação, Modesto poderá apresentar explicações e fazer eventuais correções no balanço. O documento, então, voltaria ao conselho fiscal para uma nova avaliação e encaminhamento novamente ao conselho deliberativo. Caso seja mantida a reprovação, Modesto e seus diretores podem ser punidos com advertência, suspensão e até expulsão (possibilidade considerada remota por conselheiros).

O ex-presidente nega irregularidades. "Esse parecer é uma análise política e não técnica", afirmou Modesto.

Já o atual presidente, José Carlos Peres, tem posição diferente. "Concordo com o parecer. O mais preocupante é que a gestão anterior entregou o clube com terríveis problemas financeiros, mas, com essa marca maravilhosa, levantaremos o clube rapidamente", declarou o dirigente.

Abaixo conheça cinco pontos importantes dos 18 citados no parecer do conselho fiscal.

Empréstimo com empresário

Em um dos argumentos que embasam sua indicação pela reprovação das contas, o conselho fiscal cita que o Santos, na gestão de Modesto, fez empréstimos junto ao um agente que detém direitos econômicos dos jogadores e que outras "fatias" de atletas são dadas como garantia. Essa parte do relatório não revela o nome do parceiro. Porém, documentos anexados a ele e obtidos pelo blog, mencionam que o alvinegro pegou dinheiro emprestado com Giuliano Bertolucci.

Um dos principais empresários brasileiros e com influência na Europa, ele atua em diversas negociações ao lado do iraniano Kia Joorabchian, peso pesado internacional do ramo.

O empréstimo foi de R$ 6.163.000. De acordo com o conselho fiscal, além de se comprometer a pagar o valor até 31 de dezembro, o clube cedeu para Bertolucci exclusividade em eventuais vendas de Thiago Maia e Vítor Bueno. O agente receberia 8% de cada negociação.

O francês Lille comprou Thiago por 14 milhões de euros (cerca de R$ 57,1 em valores atuais). Ainda conforme dados anexos ao parecer, o Santos teve direito a 9,8 milhões de euros (R$ 40 milhões atualmente) por deter 70% dos direitos do atleta. Dessa quantia, foram separados aproximadamente R$ 4 milhões para a empresa Bertolucci Assessoria e Propaganda a título de intermediação. Porém, o conselho fiscal afirmou que o clube arcou integralmente com esse montante, sendo que sua responsabilidade seria apenas sobre 70%. Os outros 30% deveriam ser descontados do atleta, que também tinha participação nos direitos.

Bertolucci ainda não recebeu de volta o dinheiro do empréstimo. A dívida aparece no balanço, ainda não publicado, no valor de R$ 6.338.000 na relação de débitos com terceiros. O documento aponta que Thiago também não recebeu a sua parte (cerca de R$ 14,4 milhões).

"O clube precisava de dinheiro e pegamos emprestado com o Bertolucci. Ele cobrou juros bem menores do que os de banco. Não pagamos porque não tivemos dinheiro", disse Modesto. Sobre o Santos ter arcado sozinho com 8% de comissão, o ex-presidente afirmou que isso ocorreu porque há uma disputa na judicial envolvendo empresários pelos 30% que pertenciam ao atleta. "O valor teve que ser descontado só do Santos até que a questão na Justiça se resolva", declarou.

Acerto de boca com Robinho

O conselho fiscal aponta em sua análise que dos R$ 3.294.614 que o Santos se comprometeu a pagar em acordo para quitar dívida com Robinho, em junho de 2017, cerca de R$ 1,4 milhão não aparece nos contratos firmados com o atleta. No trato, a quantia está registrada como diferença de remuneração.

"Segundo informações de representantes do departamento contábil e jurídico, em reunião de esclarecimentos com membros do conselho fiscal, teria sido um acordo verbal entre o presidente (à época Modesto) do CG (comitê de gestão) e o atleta, sem qualquer formalização", diz documento anexo ao parecer.

O ex-presidente confirma que havia acertado verbalmente o pagamento dessa quantia com o Robinho. "Foi para completar a diferença entre o que ele recebia no Milan e no Santos", disse Modesto.

Para o conselho fiscal é "descabido o pagamento de qualquer valor, por menor que seja sem documento de suporte".

Mecanismo de solidariedade por Neymar

O parecer contrário à aprovação das contas menciona ressalva feita ao balanço de 2017 do Santos pela empresa de auditoria Macso Legate referente à quantia recebida pelo clube pela transferência de Neymar do Barcelona para o PSG.

Em dezembro, a auditoria identificou dívida de R$ 1,7 milhão com a empresa Quantum Solutions Limited, com sede em Malta. Segundo análise dos auditores contratados pela diretoria, o débito se refere à intermediação para que o alvinegro recebesse quantia referente ao mecanismo de solidariedade pela nova transferência de Neymar.

"Exceto por algumas trocas de correspondências eletrônicas, até o encerramento de nossos trabalhos, não obtivemos documentação, como relatórios ou documentos formais entre a Quantum e o PSG que atestem a efetiva prestação de serviços de intermediação", diz a ressalva assinada pelos auditores. "Não sei que outro documento teria (para a empresa de auditoria examinar)", afirmou Modesto. Ele nega irregularidade na operação e sustenta que é uma exigência da legislação francesa contratar uma empresa para intermediar o recebimento da quantia relativa ao mecanismo de solidariedade.

O conselho fiscal alega que em janeiro foi informado pelo departamento jurídico do clube, já sob a batuta do novo presidente, sobre supostas irregularidades nessa operação. O órgão, então, recomendou que o conselho deliberativo exigisse o bloqueio do pagamento. O caso foi encaminhado para comissão de inquérito e sindicância do clube.

Endividamento

Outro argumento usado para pedir a reprovação das contas pelo conselho fiscal é de que a dívida do clube foi superior a 10% da receita orçada para 2017, o que teria ferido o estatuto santista. O órgão alega que o endividamento no período foi de R$ 49,7 milhões. A quantia, segundo o relatório, equivale a 15,57% da receita prevista no orçamento.

O artigo 89 do estatuto do clube diz que o limite de 10% só pode ser ultrapassado se o novo endividamento for feito para substituir financiamentos anteriores e sob condições mais favoráveis. "Não houve irregularidade porque o aumento passou de 10% por causa do acordo para pagar a dívida com a Doyen (empresa responsável por levar Leandro Damião ao Santos). Respeitamos o estatuto porque foi para substituir uma dívida com condições melhores", declarou o ex-presidente.

Apesar da polêmica, a dívida total do Santos caiu de R$ 206 milhões em 2016 para R$ 202 milhões em 2017. De acordo com o balanço financeiro, houve superavit contábil de R$ 2,9 milhões em 2017.

Impostos não pagos

Segundo o parecer, a diretoria comandada por Modesto Roma Júnior pode ter cometido crime de apropriação indébita por reter valores de encargos trabalhistas na fonte e não recolher os impostos. O conselho fiscal alega que há R$ 12,9 milhões em impostos atrasados e que a quantia será acrescida de aproximadamente R$ 1,6 milhão referente a juros e correções.

"Foi uma opção de fluxo de caixa, e aconteceu nos últimos quatro meses. O Peres disse que pagou, então já tá pago. Não interessa se fui eu ou ele, o clube já pagou", argumentou Modesto.

Com Samir Carvalho, do UOL, em Santos

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Sobre o Autor

Ricardo Perrone é formado em jornalismo pela PUC-SP, em 1991, cobriu como enviado quatro Copas do Mundo, entre 2006 e 2018. Iniciou a carreira nas redações dos jornais Gazeta de Pinheiros e A Gazeta Esportiva, além de atuar como repórter esportivo da Rádio ABC, de Santo André. De 1993 a 1997, foi repórter da Folha Ribeirão, de onde saiu para trabalhar na editoria de esporte do jornal Notícias Populares. Em 2000, transferiu-se para a Folha de S.Paulo. Foi repórter da editoria de esporte e editor da coluna Painel FC. Entre maio de 2009 e agosto de 2010 foi um dos editores da Revista Placar.

Sobre o Blog

Prioriza a informação que está longe do alcance das câmeras e microfones. Busca antecipar discussões e decisões tomadas por dirigentes, empresários, jogadores e políticos envolvidos com o futebol brasileiro.


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