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Como o Brasileirão explica a pandemia no país

Perrone

12/08/2020 04h00

O início do Brasileirão apresenta problemas e outras questões semelhantes às enfrentadas pelo país desde o início da pandemia de covid-19. Basta olhar para o campeonato para entender o que acontece no Brasil em relação à crise sanitária. E vice-versa. Confira abaixo.

Testes

Goiás x Sāo Paulo, pela primeira rodada do Brasileiro, precisou ser adiado por que o time da casa demorou para receber seus exames, pois houve uma falha técnica relacionada à coleta de material. O procedimento precisou ser refeito. No dia do jogo, o Goiás descobriu que 10 resultados deram positivo e a partida foi suspensa.

Problemas com os testes marcam o enfrentamento ao novo coronavírus no Brasil. Logo no início da pandemia, a demora nos resultados dos testes de covid-19, além dos obstáculos para a testagem em massa, se mostrou um problema grave.

Em grandes centros, como Sāo Paulo, a fila de exames aguardando resultados custou a acabar. Munícipos menores ainda enfrentam dificuldades.

Falhas na manipulação do material a ser examinado, como aconteceu no caso de atletas e outros funcionários do Goiás, chocaram a opinião pública no início do combate à transmissão do vírus.

Desigualdade

Para tentar diminuir os riscos de contaminação, os clubes que possuem recursos estão fretando aviōes para chegar ao local de suas partidas. O custo é considerado alto pelas agremiações.

Como mostrou o blog, algumas equipes tentam compartilhar a mesma aeronave, devidamente higienizada, quando fazem bate e volta para a mesma cidade, mas com locais de pouso e decolagem invertidos.

O Sāo Paulo é um dos times de olho nessas oportunidades. Flamengo e Red Bull Bragantino, sem dependerem de parceria, já decidiram fretar voos em todos os jogos fora de casa na competição (o rubro-negro já havia feito cerca de 80% de suas viagens dessa forma na temporada passada).

Ao mesmo tempo, outras agremiações, como Fortaleza e Bahia, concluíram que aviões exclusivos nāo cabem em seus orçamentos. Isso cria uma incômoda diferença. Times que viajam com outros passageiros que não passam pela mesma rotina de testes correm mais risco de contaminação. Pelo menos em tese.

Além da questão sanitária, o problema pode ter reflexos esportivos, pois nem todos têm elencos robustos para suportar eventuais perdas numerosas por causa da covid-19.

Desigualdade é justamente um dos grandes pesadelos brasileiros durante a pandemia. O isolamento social é recomendado para todas as classes. Porém, quem têm menos recursos e divide um cômodo com vários parentes têm mais chances de se contaminar.

Negacionismo

Um dia depois de a abertura do Brasileirão ser conturbada por conta do problema com o Goiás, além de casos problemáticos nas Séries B e C, Walter Feldman, secretário-geral da CBF, defendeu o protocolo elaborado pela entidade e disse que nenhuma vida de alteta foi colocada em risco, negando o que era evidente. A confederação acabou alterando pontos de seu protocolo ainda na última segunda (10).

O negacionismo do presidente Jair Bolsonaro, que chegou a chamar a covid-19 de gripezinha, é apontado por especialistas da área da saúde como um dos principais erros do Brasil na luta contra a pandemia.

Pressão econômica

Houve grande pressão da maioria dos clubes para o retorno do futebol, começando pela manutenção da tabela integral do Brasileirão, mesmo sem a pandemia estar sob controle em solo nacional.

O motivo para essa pressa tem a ver com dinheiro, principalmente da TV. Os dirigentes sabiam que não receberiam a verba integral relativa ao Brasileirão na TV se todos os jogos programados não acontecessem. Ao que se refere aos seus contratos, a Globo deixou isso claro.

Antes da pandemia, a maior parte das agremiações já enfrentava situação financeira difícil. Então, por causa da crise sanitária, os campeonatos foram suspensos e a situação piorou. A retomada era vista como única saída, apesar de a população brasileira ainda ser duramente castigada pelo vírus.

O cartolas repetiram o que empresários das mais variadas áreas fizeram pressionando seus estados e municípios a promover a retomada das atividades ainda que parte deles registrasse média diária de mortes preocupante. Várias cidades precisaram recuar nas medidas de flexibilização por causa de aumento na contaminação.

A CBF já teve que adiar um jogo do Brasileirão na primeira rodada por causa dos efeitos da pandemia.

Nesse cenário, o Brasileirão reflete a disputa entre economia e saúde estimulada por Bolsonaro desde os primeiros dias de enfrentamento à covid-19 no país.

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Sobre o Autor

Ricardo Perrone é formado em jornalismo pela PUC-SP, em 1991, cobriu como enviado quatro Copas do Mundo, entre 2006 e 2018. Iniciou a carreira nas redações dos jornais Gazeta de Pinheiros e A Gazeta Esportiva, além de atuar como repórter esportivo da Rádio ABC, de Santo André. De 1993 a 1997, foi repórter da Folha Ribeirão, de onde saiu para trabalhar na editoria de esporte do jornal Notícias Populares. Em 2000, transferiu-se para a Folha de S.Paulo. Foi repórter da editoria de esporte e editor da coluna Painel FC. Entre maio de 2009 e agosto de 2010 foi um dos editores da Revista Placar.

Sobre o Blog

Prioriza a informação que está longe do alcance das câmeras e microfones. Busca antecipar discussões e decisões tomadas por dirigentes, empresários, jogadores e políticos envolvidos com o futebol brasileiro.


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